Data de Publicação: 12 de agosto de 2006 em
HAVANA - Referindo-se a um visitante estrangeiro que ele havia acompanhado durante uma semana numa viagem pelo interior de Cuba, Fidel Castro disse: "Como esse homem fala! Consegue falar mais do que eu". Basta conhecer um pouco Fidel Castro para saber que é mais um de seus exageros, e dos maiores, pois não é possível imaginar alguém mais viciado que ele no hábito da conversa. Sua devoção pela palavra é quase mágica. No começo da revolução, apenas uma semana depois de sua entrada triunfal em Havana, ele falou sem trégua pela televisão durante sete horas. Deve ser o recorde mundial. Nas primeiras horas, os moradores de Havana, ainda não habituados ao poder hipnótico daquela voz, sentaram-se para escutá-la da maneira de sempre, mas à medida que o tempo ia passando tornavam às suas rotinas, com um ouvido em seus assuntos e outro no discurso.
Eu havia chegado com um grupo de jornalistas de Caracas no dia anterior, e começamos a escutá-lo no quarto do hotel. Depois continuamos ouvindo sem pausa no elevador, no táxi que nos levou aos bairros comerciais, nas varandas floridas dos cafés, nos bares glaciais, e até nas rajadas dos rádios a todo volume que saiam pelas janelas abertas enquanto caminhavamos pela rua. De noite, havíamos feito tudo que precisávamos fazer ao longo do dia, sem perder uma única palavra do discurso. Duas coisas chamaram a nossa atenção, ao ouvirmos Fidel Castro pela primeira vez.
Uma era seu terrível poder de sedução. A outra era a fragilidade de sua voz. Uma voz afônica, que às vezes parecia sem fôlego. Um médico que escutava fez uma dissertação sobre a natureza daqueles quebrantos e concluiu que mesmo sem discursos amazônicos como o daquele dia, Fidel Castro estava condenado a ficar sem voz em menos de cinco anos. Pouco depois, em agosto de 1962, o prognóstico pareceu dar seu primeiro sinal de alarma, quando ele ficou mudo depois de anunciar em um discurso a nacionalização das empresas norte-americanas. Mas foi um percalço transitório que não se repetiu. Sua voz parece ainda tão incerta como sempre, mas continua sendo seu instrumento mais útil e irresistível no muito delicado ofício da palavra falada.
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