quinta-feira, 14 de junho de 2007

Entrevista com escritor que escreveu uma novela em cima de Cem Anos de Solidão

O homem por trás da primeira edição de Cem Anos de Solidão, Paco Porrua relembra impacto de ler em primeira mão os originais do livro


Quando leu os três livros anteriores de Gabriel García Márquez, em meados de 1966, o editor Francisco (Paco) Porrua, diretor da Editorial
Sudamericana, de Buenos Aires, teve uma convicção premonitória.
Escreveu àquele autor de quem nunca ouvira falar até uns meses antes e
ouviu dele uma sugestão: editar "uma novela" que ele estava
terminando. A novela tinha o título de Cem Anos de Solidão. O livro
foi para as bancas de Buenos Aires em 5 de junho de 1967, uma
segunda-feira. Desde então, vendeu mais de 30 milhões de exemplares em
todo o mundo.

Hoje, aos 84 anos, vivendo em Barcelona, o catalão Paco Porrua
saboreia as delícias de seu portentoso vaticínio. Para ele, Cem Anos
de Solidão foi uma tomada de consciência de que a América Latina tinha
uma literatura à altura de qualquer continente. A fama o envolveu:
"Hoje eu não sou só Paco Porrua", diz divertido. "Aqui todos me chamam
de Paco Porrua, o editor de Cem Anos de Solidão." Ele saiu da
Argentina no momento de maior terror, em 1977, fundou sua própria
editora Minotauro, a qual vendeu há alguns anos. De Barcelona, falou
ao Estado por telefone:

Como o sr. soube da existência de Cem Anos de Solidão?

Eu nunca tinha ouvido falar dele, mas um amigo chileno me emprestou
três livros de Gabo e eu me entusiasmei. Eram Os Funerais da Mamãe
Grande, La Hojarasca e, sobretudo, Ninguém Escreve ao Coronel. Eu
mandei uma carta a Gabo, propondo editar esses livros na Argentina. Na
resposta, ele me perguntou se eu me interessava por uma novela que ele
estava terminando de escrever, sem explicar o que era. Eu disse que
tinha interesse.

Ele então lhe enviou os originais.

Ele me mandou os originais, eu li, percebi que estava diante de uma
obra de uma qualidade literária muito evidente e fechei um acordo com
ele. Mandei-lhe imediatamente US$ 500 como adiantamento. Publicamos o
livro. Mas o que aconteceu em seguida foi algo inesperado. Naquele
momento havia uma grande efervescência cultural na Argentina,
sobretudo em torno da literatura e da pintura. Nós, editores,
estávamos seguros de que o livro teria êxito. Mas o que aconteceu
superou todas as nossas expectativas.

Por que à ultima hora o senhor ainda decidiu aumentar a tiragem da
primeira edição?

Eu acreditei no clima efervescente de Buenos Aires. Para mim, a
qualidade da obra era muito evidente. Nesse contexto, 8 mil exemplares
não era muito. Mas de todas as maneiras, nós esperávamos que essa
edição se vendesse em quatro ou cinco meses - e já estaria muito bom
-, mas nunca que se esgotasse em 15 dias, como aconteceu. O entusiasmo
na cidade foi notável. Quando Gabo esteve lá, as pessoas o
interpelavam na rua - e ele não era um autor conhecido algumas semanas
antes.

Como foi que reagiram os críticos literários no lançamento?

Sem nenhuma exceção, os críticos de Buenos Aires foram muito
elogiosos. É que Cem Anos de Solidão é uma obra incomparável e tem uma
característica singular, alguma coisa própria da mitologia. Aqueles
personagens, como o coronel Aureliano Buendía e suas mulheres, eles
são uma família arquetípica, não? Isso me tocava, porque em Buenos
Aires as pessoas diziam: "Ah, o coronel Aureliano Buendía é igualzinho
ao meu avô." Todo mundo tinha uma espécie de mitologia familiar na
qual os personagens de Gabo se encaixavam perfeitamente.

Como foram suas reações com García Márquez depois do sucesso?

Nós nos vemos muito pouco, às vezes se passa um ano sem que nos
vejamos. Mas cada vez que nos vemos há uma grande emoção, creio, da
parte de nós dois. Eu sinto que o destino nos uniu. Afinal, eu sou o
editor que deu uma nova direção à sua carreira. Quando nos vemos,
realmente nos sentimos muito felizes, há muito afeto e muito carinho
de ambos. Mas minha relação com Gabo não é só a relação de um autor
com seu editor. Quando falam de mim, aqui na Espanha, ninguém fala
apenas de Paco Porrua; todos falam "Paco Porrua, o editor de Cem Anos
de Solidão". O livro virou um sobrenome para mim. Eu devo dizer que
isso me faz imensamente feliz.

Como leitor privilegiado, qual é a sua avaliação de Cem Anos de
Solidão 40 anos depois? Trata-se de um livro seminal?

Foi o livro que provocou o boom da literatura latino-americana e isso
indica que foi, também, uma espécie de tomada de consciência do valor
da literatura latino-americana, incluída aí a literatura brasileira.
Tomada de consciência de que havia, realmente, uma literatura
independente que tinha uma relação equilibrada com a literatura
européia e com a literatura mundial. Cem Anos mostrou aos leitores que
essa literatura latino-americana tinha muita qualidade, que podia se
comparar à que se fazia em outros continentes. Isso já tinha começado
a acontecer com O Jogo da Amarelinha (de Cortázar), com Os Chefes
(primeiro livro de Mário Vargas Llosa), mas aconteceu de forma muito
mais notável com Cem Anos de Solidão.

Em que plano o sr. situa Gabriel García Márquez na literatura mundial
do século 20?

Eu o situo como um grande novelista latino-americano. E mais não digo,
porque, como falei antes, resisto a fazer comparações em literatura.
Além do mais, Gabo tem um universo próprio, que não cabe comparar com
nenhum outro.

Estado de São Paulo

2 comentários:

master chief disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
master chief disse...

Cão que ladra ..ofende

"Não tenho medo do senhor,
nem aqui nem lá fora"
e vocemessê
não é homem e nem é nada
se não lhe der, já uma estalada
Aqui para nós...
cão que ladra não morde
á dentada
pois mesmo que a ladra ofenda
haja pubílirio que seja
oferenda
e quando as coisas azedam
mais vale uma boa bofetada
que um pontapé à faca
... como se diz nos dicionários
agora é vez dos reacionários
pegarem em armas...
se deres um soco no ladrão
haja ele lançado num alçapão
mas se estás ofendido com este
poema ....
faz de conta
que não levaste uma coiçetada
que é como se diz ..."Arre burro
que para proxima aprendes
a não dizer mais nada...
que um ofendido... te bata!"

carlos Ac liberal