sexta-feira, 15 de junho de 2007

Personagens mágicos e tragédias agudas

Em Aracataca, segue viva a inspiração para Macondo, cidade criada pelo escritor


Por Carlos Marchi


Chamava-se Academia de Bailes. Uma edificação em dois volumes, uns 150 metros quadrados, a papayera, orquestra de 12 a 24 músicos tocava ininterruptamente na Aracataca dos anos 20, epicentro da febre bananeira, onde se concentravam os bons partidos da Colômbia. As moças, esmeradas no vestido, nas jóias, na maquiagem e no penteado, sentavam-se em cadeiras alinhadas junto às paredes. Tomando uísque, os bons partidos fluíam de um lado para outro, mirando as señoritas.

De repente, o convite. Trêmula, a moça jogava no giro da roleta: daquela dança podia sair um casamento de ocasião ou a inevitável condenação à solteirice eterna ou à prostituição amaldiçoada – nenhum homem se casaria com mulher que já tivesse dançado com outro. A mesma construção centenária que abrigava a Academia de Bailes é hoje ponto de exercício do ócio; no lugar onde evoluíam os pares, jovens sem perspectiva jogam em oito mesas de sinuca, sintetizando a diferençaentre a Aracataca fantástica do início do século 20, prenhe de fantasias, da Aracataca desesperançada do século 21.

Esta é uma história de Aracataca nunca contada por Gabriel García Márquez. Como ela, existem muitas outras, plenas de personagens mágicos e pontuadas por tragédias agudas. Como disse Carlos Fuentes,com indissimulada ponta de inveja, as histórias de Aracataca se apresentaram prontas - "Aqui estoy. Así soy. Ahora, escribeme." Gabo aceitou a oferta generosa e espontânea, acolheu uma parte delas paraencorpar o realismo mágico e pavimentar a sua trajetória para o Prêmio Nobel. Nem todas as histórias - tantas eram - couberam em seus livros e ainda hoje permanecem virgens na cidade.

A INSPIRAÇÃO DE MACONDO

A 80 quilômetros de Santa Marta, capital do departamento de Magdalena, Aracataca tem hoje 52 mil habitantes, quatro vezes mais que os 12 mil habitantes de 1927, ano em que Gabo nasceu. À época, os trabalhadores sofriam os achaques da companhia bananeira; hoje, simplesmente não háempregos. Graças às patrulhas permanentes do Exército, a guerrilha das Farc já não seqüestra pessoas na estrada que vai de Santa Marta a Bosconia, que passa pela entrada da cidade. Mas os acampamentos guerrilheiros estão bem ali ao lado, nos altos da Serra Nevada, e novizinho departamento do Cesar.
A inspiração de Macondo, no entanto, segue viva. A velha botica, na esquina da Avenida Monseñor Espejo com a Rua dos Turcos, a um quarteirão e meio da casa da família Márquez Iguarán (palco, em 1950, do momento em que Gabo decidiu contar as histórias da infância), está de pé, hoje desempenhando o simplório papel de armazém. Rústica, de madeira e zinco, a velha construção tem um estranho telhado alto e inclinado, não para escorrer uma neve que nunca cairá ali, mas para"quebrar" o vento nas tormentas devastadoras de Aracataca.

Dentre todos os velhos mistérios de Macondo, a Rua dos Turcos perdeu o encanto. O seu comércio, florescente nas primeiras décadas do século 20 e palco de mistérios de Cem Anos de Solidão, hoje se resume a bares que só vendem cerveja e pobres tiendas para comercializar chamadas a partir de celulares, a 150 pesos (R$ 0,15) o minuto, revelando a indigência econômica da cidade. A única livraria faliu, constata Rafael Dario Jimenez, diretor da casa-museu Gabriel García Márquez.

O Rio Aracataca mantém suas "águas diáfanas" (menos na estação das chuvas, a partir de maio, quando elas descem amarronzadas da serra Nevada), com suas inconfundíveis pedras redondas e brancas, tal qual um inesgotável ninho de ovos pré-históricos, como o rio de Macondo. Os ciganos têm vindo pouco; quando vêm para negociar cavalos, são mal recebidos pelos cataqueros, que os têm na conta de ladrões. Os circos sumiram; vez por outra chegam parquinhos mambembes. Mas a gallera(rinha de galos) mantém a tradição que vem do início do século 20, quando Gabo nasceu.

Estado de São Paulo

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Entrevista com escritor que escreveu uma novela em cima de Cem Anos de Solidão

O homem por trás da primeira edição de Cem Anos de Solidão, Paco Porrua relembra impacto de ler em primeira mão os originais do livro


Quando leu os três livros anteriores de Gabriel García Márquez, em meados de 1966, o editor Francisco (Paco) Porrua, diretor da Editorial
Sudamericana, de Buenos Aires, teve uma convicção premonitória.
Escreveu àquele autor de quem nunca ouvira falar até uns meses antes e
ouviu dele uma sugestão: editar "uma novela" que ele estava
terminando. A novela tinha o título de Cem Anos de Solidão. O livro
foi para as bancas de Buenos Aires em 5 de junho de 1967, uma
segunda-feira. Desde então, vendeu mais de 30 milhões de exemplares em
todo o mundo.

Hoje, aos 84 anos, vivendo em Barcelona, o catalão Paco Porrua
saboreia as delícias de seu portentoso vaticínio. Para ele, Cem Anos
de Solidão foi uma tomada de consciência de que a América Latina tinha
uma literatura à altura de qualquer continente. A fama o envolveu:
"Hoje eu não sou só Paco Porrua", diz divertido. "Aqui todos me chamam
de Paco Porrua, o editor de Cem Anos de Solidão." Ele saiu da
Argentina no momento de maior terror, em 1977, fundou sua própria
editora Minotauro, a qual vendeu há alguns anos. De Barcelona, falou
ao Estado por telefone:

Como o sr. soube da existência de Cem Anos de Solidão?

Eu nunca tinha ouvido falar dele, mas um amigo chileno me emprestou
três livros de Gabo e eu me entusiasmei. Eram Os Funerais da Mamãe
Grande, La Hojarasca e, sobretudo, Ninguém Escreve ao Coronel. Eu
mandei uma carta a Gabo, propondo editar esses livros na Argentina. Na
resposta, ele me perguntou se eu me interessava por uma novela que ele
estava terminando de escrever, sem explicar o que era. Eu disse que
tinha interesse.

Ele então lhe enviou os originais.

Ele me mandou os originais, eu li, percebi que estava diante de uma
obra de uma qualidade literária muito evidente e fechei um acordo com
ele. Mandei-lhe imediatamente US$ 500 como adiantamento. Publicamos o
livro. Mas o que aconteceu em seguida foi algo inesperado. Naquele
momento havia uma grande efervescência cultural na Argentina,
sobretudo em torno da literatura e da pintura. Nós, editores,
estávamos seguros de que o livro teria êxito. Mas o que aconteceu
superou todas as nossas expectativas.

Por que à ultima hora o senhor ainda decidiu aumentar a tiragem da
primeira edição?

Eu acreditei no clima efervescente de Buenos Aires. Para mim, a
qualidade da obra era muito evidente. Nesse contexto, 8 mil exemplares
não era muito. Mas de todas as maneiras, nós esperávamos que essa
edição se vendesse em quatro ou cinco meses - e já estaria muito bom
-, mas nunca que se esgotasse em 15 dias, como aconteceu. O entusiasmo
na cidade foi notável. Quando Gabo esteve lá, as pessoas o
interpelavam na rua - e ele não era um autor conhecido algumas semanas
antes.

Como foi que reagiram os críticos literários no lançamento?

Sem nenhuma exceção, os críticos de Buenos Aires foram muito
elogiosos. É que Cem Anos de Solidão é uma obra incomparável e tem uma
característica singular, alguma coisa própria da mitologia. Aqueles
personagens, como o coronel Aureliano Buendía e suas mulheres, eles
são uma família arquetípica, não? Isso me tocava, porque em Buenos
Aires as pessoas diziam: "Ah, o coronel Aureliano Buendía é igualzinho
ao meu avô." Todo mundo tinha uma espécie de mitologia familiar na
qual os personagens de Gabo se encaixavam perfeitamente.

Como foram suas reações com García Márquez depois do sucesso?

Nós nos vemos muito pouco, às vezes se passa um ano sem que nos
vejamos. Mas cada vez que nos vemos há uma grande emoção, creio, da
parte de nós dois. Eu sinto que o destino nos uniu. Afinal, eu sou o
editor que deu uma nova direção à sua carreira. Quando nos vemos,
realmente nos sentimos muito felizes, há muito afeto e muito carinho
de ambos. Mas minha relação com Gabo não é só a relação de um autor
com seu editor. Quando falam de mim, aqui na Espanha, ninguém fala
apenas de Paco Porrua; todos falam "Paco Porrua, o editor de Cem Anos
de Solidão". O livro virou um sobrenome para mim. Eu devo dizer que
isso me faz imensamente feliz.

Como leitor privilegiado, qual é a sua avaliação de Cem Anos de
Solidão 40 anos depois? Trata-se de um livro seminal?

Foi o livro que provocou o boom da literatura latino-americana e isso
indica que foi, também, uma espécie de tomada de consciência do valor
da literatura latino-americana, incluída aí a literatura brasileira.
Tomada de consciência de que havia, realmente, uma literatura
independente que tinha uma relação equilibrada com a literatura
européia e com a literatura mundial. Cem Anos mostrou aos leitores que
essa literatura latino-americana tinha muita qualidade, que podia se
comparar à que se fazia em outros continentes. Isso já tinha começado
a acontecer com O Jogo da Amarelinha (de Cortázar), com Os Chefes
(primeiro livro de Mário Vargas Llosa), mas aconteceu de forma muito
mais notável com Cem Anos de Solidão.

Em que plano o sr. situa Gabriel García Márquez na literatura mundial
do século 20?

Eu o situo como um grande novelista latino-americano. E mais não digo,
porque, como falei antes, resisto a fazer comparações em literatura.
Além do mais, Gabo tem um universo próprio, que não cabe comparar com
nenhum outro.

Estado de São Paulo

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Afetos duradouros, mesmo com soco de Vargas Llosa...

Apesar do desentendimento com colega peruano, ele dá valor mítico à amizade




Gabriel García Márquez é um homem de afetos duradouros. Embora suabiografia seja pontuada por citações de libertinagens na juventude,ele se tornou um homem rigorosamente fiel - embora siga sendo umgalanteador incorrigível até hoje - desde que se casou com MercedesBarcha, em 1958, aos 31 anos, ao contrário do pai, Elígio, que namorouaté morrer.

A única desconfiança a pesar-lhe foi o soco demolidor que Mário VargasLlosa lhe aplicou em fevereiro de 1976, num cinema mexicano, quandoGabo o recebia de braços abertos para estreitá-lo num abraço. Eleseram muito amigos até que Vargas Llosa ficou transtornado com a"assistência psicológica" que Gabo, numa crise do casamento, teriadado a Patrícia, então mulher de Vargas.

Depois do soco, nunca mais. Numa exposição em Barcelona, Mercedespuxou Gabo para a saída ao ver Vargas entrar. Agora, Vargas autorizoua publicação de um resumo de seu magistral ensaio História de umDeicídio, considerado a melhor interpretação de Cem Anos de Solidão,na nova edição do livro feita pela Real Academia Espanhola da Língua.Os amigos interpretaram a autorização como um aceno para a retomada da antiga amizade.

Do outro lado, uma de suas maiores admirações, o escritor mexicanoJuan Rulfo, igualmente tímido, afastou-se quando Gabo ganhou o Nobel.Gabo ficou procurando uma forma de se reaproximar suavemente. Um diaRulfo estava na casa de Eric Nepomuceno, na Cidade do México, quandose deu a cena: sem ter sido convidado, Gabo desembarcou do carrodirigido por Mercedes, levando nas mãos uma enorme panela de massa quetinha comprado num restaurante italiano. Juntos, eles comeram, riram efalaram mal de meio mundo.

Rulfo mereceria dele uma singela homenagem. Depois de receber o Nobel,Gabo decidiu recusar toda e qualquer honraria, mas foi receber aAguila Azteca, a mais alta condecoração mexicana, concedida antes dogrande laurel literário. Quando, num rito protocolar, o presidenteJosé López Portillo lhe perguntou se aceitava a condecoração, Gabodisse que não, a não ser que seu amigo Juan Rulfo estivesse a seulado. Quebrado o protocolo, Rulfo se levantou na platéia e foisentar-se ao lado de Gabo e do presidente.

Ele é assim - dá um valor quase mítico à amizade. "Ele entende aamizade com o sentido estrito de uma máfia, em que todos atuam juntos,um protege o outro", explica o cineasta Ruy Guerra. Por isso, sócontinuaram sendo amigos dele os que entenderam esse conceito, comoÁlvaro Mutis, Carlos Fuentes e Juan Rulfo, enquanto viveu. VargasLlosa não teria entendido - e por isso todos os que conhecem Gaboasseveram: como era antes, nunca mais.

Com o pai, don Gabriel Eligio, sempre foi cerimonioso. Numa conversacom ele e sua mãe, em Cartagena, a conversa fluía mineiríssima. Derepente, Gabo contou que estava escrevendo um livro com um personagem"parecido" com o pai. E tascou-lhe a pergunta, na lata: "Você aindatransa com a minha mãe?" Don Gabriel, aos 87 anos, garantiu-lhe: "Nãoimaginas como e quanto." Gabo saiu felicíssimo, eufórico, tendo à mãoum certificado de verossimilhança para o desempenho sexual queemprestou ao personagem de O Amor nos Tempos do Cólera.

Todos concordam que ele tem um ego monumental e que parece arrogante,porque sempre impera sobre as conversas. Ruy Guerra relata que uma vezeles contaram e concluíram que Gabo tinha 11 casas ao redor do mundo. Hoje, são 7: na Cidade do México, em Cuernavaca, em Havana, emCartagena, em Bogotá, em Paris e em Barcelona. Considera-se moderno:usa computador desde 1989, quando aposentou a companheira das velhaslides - uma Smith Corona mecânica.

Há oito anos ele soube que seu dentista em Cartagena, Jayme Gazabón,ia batizar o filho e foi o primeiro a chegar à igreja de Santa Cruz deManga, em Cartagena, mesmo sem ter sido convidado. Disse ao padre queseriam padrinhos, ele e Mercedes. Foi a maior surpresa da vida deGazabón e sua mulher Angela. "Nem conversei. Pedi desculpas aospadrinhos convidados e dei meu filho para Gabito batizar", contou ele.

Seguro do ato, Gabo levou até presente para o afilhado - três CDs comcem vallenatos, com dedicatória e tudo. Depois, foi à comemoração, nosalão de festas do edifício onde moram os Gazabón e comandou a festa.Gazabón diz que empacou quando Gabo quis saber qual seria o peso deuma enorme ponga (uma espécie de baobá colombiano) plantada no jardim.

O Nobel deu-lhe fama mundial, mas nada tocou mais seu coração, garanteGustavo Tatis, do que receber o bastão-símbolo de palavrero (o líderque resolve tudo com palavras) da etnia wayúu (guaiú), do departamentode La Guajira, onde nasceu seu avô Nicolás (o coronel da Guerra dosMil Dias, que fugiu de Riohacha para Aracataca após matar MedardoPacheco, tal como José Arcadio Buendía, que fundou Macondo depois dematar Prudencio Aguilar Riohacha). A mãe Luisa Santiaga nasceu emBarrancas, um lugar típico dos guaiú.

Numa cerimônia em La Guajira, em março de 2003, o antropólogo WeildlerGuerra Curvelo, um mestiço guaiú, entregou-lhe o bastão-símbolo efez-lhe uma homenagem em idioma guaiú. Quem presenciou disse que omestiço guaiú Gabo ficou circunspecto e emocionado. É bem possívelque, para ele, aquela honraria tocasse mais que o Nobel, por revolveras mais convincentes reminiscências das profundezas de onde brotaria Macondo.

Estado de São Paulo, 12 de junho de 2007

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Casa de Gabo vira Museu

por Marcela Wolter

Seguindo a mesma lógica das casas dos grandes escritores consagrados como a casa de William Shakespeare na Inglaterra e a de Pablo Neruda no Chile, a casa de Gabriel Garcia Marquez na Colômbia estará pronta em 2008.O prazo para inauguração é nos 81 anos de vida do autor que pretendem comemorar com a abertura da casa.

A casa de Garcia Marquez, atualmente em ruínas, começou a ser reconstruída na semana de seu aniversário de 80 anos, num ano tão consagrado de tantas datas comemorativas para o ficcionista. A idéia é manter a mesma aparência que tinha em 1927, com todos os comôdos iguais. O quarto de gabo, de seus avós, de sua tia Sara Emília e dos índios que faziam os serviços domésticos.

Uma casa museu para imortalizar o local que inspirou o grande escritor para escrever diversas de suas obras e que originou o mundo mítico de Macondo. Local que morou desde que nasceu em 6 de março de 1927 até seus 9 anos, quando saiu de lá. Para a restauração se estudaram os títulos jurídicos, se fizeram investigações técnicas sobre a construção e entrevistas com os proprietários entre 1957 a 1985. Serão incluídos detalhes que estão nos seus livros, como a fachada branca e o jardim de begonhas, e sua família doará objetos que compunham a casa.

Para fãs do escritor, é mais uma forma de conhecer mais a fundo o gênio e para a cidade, é mais uma forma de atrair turistas. Todos saem ganhando.

domingo, 10 de junho de 2007

Gabo e os direitos humanos

por Marcela Wolter

Ano de comemorações de Gabriel Garcia Marquez, onde milhões de instituições e foruns internacionais estão o homenageando por suas datas comemorativas, não podemos deixar de ressaltar e homenagear também seus feitos no campo da defesa dos direitos humanos.

Desde antes de se consagrar o grande escritor latino americano, ainda como jornalista, Gabo, como assim é chamado carinhosamente, já realizava excelentes trabalhos a favor dos direitos humanos. Seguiu a Revolução Cubana fazendo reportagens e criou junto com Fidel a Prensa Latina, agência de notícias de Cuba, sempre escrevendo artigos em defesa da igualdade. Publica dois textos de ficção que descrevem a realidade do povo latino americano e em 1965 ganha o Prêmio Nacional de seu país.

Já consagrado com o livro "Cem anos de solidão" e como sempre consciente de sua responsabilidade como intelectual de prestígio se converte a embaixador extraoficial do continente e se dedica mais ativamente a defesa dos direitos humanos e começa a estreitar laços com mandatários da América Latina de ideais progressistas, tais como, Fidel Castro, Torrijos, Carlos Andrés Pérez, os sandinistas, entre outros. É através de seu reconhecimento de escritor universal que Gabo aproveita para se dedicar a um trabalho político como mediador em conflitos e como gestor em causas sociais importantes.

Em 1974, é nomeado vice presidente do Tribunal Bertrand Russell, organização instituída para defender os direitos humanos. Nos anos seguintes luta com Omar Torrijos para devolver o canal do Panamá aos panamenhos e com seu amigo escritor Julio Cortázar pela causa dos revolucionários sandinistas em Nicarágua. Em 1979 participa da Comissão Internacional sobre os Meios de Informação e Comunicação organizada pela UNESCO.

Mas o seu principal compromisso sempre foi com a paz em seu país, participando de todas as reuniões de trabalho entre os revolucionários e o governo, apesar de todas sempre terem fracassado. Ao receber o prêmio Nobel em 1982 ratifica todas as suas opiniões de esquerda e sua luta pela dignidade em seu discurso com referências ao governos ditatoriais da América Latina, ao etnocídio, a morte de milhões de crianças, a migração por conflitos militares e defendendo a autodeterminação dos povos.

Em dezembro do ano passado foi nomeado presidente honorário da Fundación América Latina en Acción Solidaria, cujo objetivo é conscientizar a população sobre a emergência social que vivem milhões de crianças do continente, promovendo o direito aos grupos mais vulneráveis e elaborando propostas alternativas que apontem uma ajuda concreta na luta contra a pobreza.

É por isso que Gabo tem que ser condecorado não só pelo seu trabalho literário, mas também por promover ideais e lutar pelos excluídos. Ainda mais nesse tempo onde nem os intelectuais se importam com isso.

sábado, 9 de junho de 2007

Gabriel García Marques volta a seu povoado 25 anos depois

O escritor colombiano Gabriel García Márquez - apelidado carinhosamente de Gabo - retornou hoje a Aracataca, seu povoado natal, após 25 anos de ausência, e o fez no "trem amarelo" que aparece em suas obras e que percorria a zona bananeira do norte do país há oito décadas.
Gabo, seguiu assim a temporada de homenagens que começou no dia 6 de março, quando completou 80 anos, e continuou dias depois no 4º Congresso Internacional da Língua Espanhola, onde foram celebrados os 40 anos da publicação de Cem Anos de Solidão, seu principal romance, e os 25 do Prêmio Nobel de Literatura.
Segundo amigos do escritor, García Márquez estava reticente em retornar a Aracataca por causa de uma espécie de presságio, que o fazia temer ser a última vez a fazê-lo.
O trem amarelo, que na realidade é cor de creme e azul celeste, é formado por uma locomotiva identificada com o número 1047, que leva três vagões, um deles com cadeiras laterais de madeira e persianas amarelas, ao estilo dos anos 40, como narra o escritor em seus livros.
O trem partiu da estação ao lado do porto de Santa Marta, a cidade mais antiga da Colômbia, fundada em 1525, e capital do departamento (estado) caribenho de Magdalena, levando quase quatro horas para cobrir os 80 quilômetros do percurso. No vagão principal iam García Márquez - vestido de branco -, sua esposa Mercedes e cerca de 50 familiares e amigos, funcionários e empresários que promovem a recuperação da rota ferroviária.
O escritor recebeu uma ligação de um de seus amigos mais conhecidos, o ex-presidente americano Bill Clinton, que o acompanhou no dia 26 de março na cidade colombiana de Cartagena, na homenagem que foi feita a ele durante o 4º Congresso da Língua Espanhola.
O trem é um projeto turístico e cultural que pretende recuperar esse sistema de transporte e impulsionar o desenvolvimento e a cultura da região.A locomotiva foi fabricada em 1969 pela Sociedade Espanhola de Construções Basbcock e Wilcox, com licença da General Electric.
Os vagões foram restaurados em uma oficina perto de Medellín e chegaram em caminhões a Santa Marta poucas horas antes da partida.Após serpentear as montanhas à margem do mar, a ferrovia se abriu passagem entre os bananais, enquanto os habitantes dos povoados e trabalhadores das fazendas saíam para saudar a caravana. Os vagões passaram por Gaira, Bonda, Ciénaga, Riofrío, Orihueca, Prado, Sevilla - que foi a sede da empresa americana United Fruit Company-, Guacamayal, Tucurinca e, finalmente, Aracataca.Foi entre Guacamayal e Sevilha de onde se diz que saiu o nome de Macondo, imortalizado como universo mítico da obra de García Márquez e que, segundo diferentes estudiosos, provém do nome de um tipo de banana de origem africana ou de uma das fazendas da região.
Ao chegar a Aracataca, o escritor passeou pelas ruas poeirentas em uma carroça puxada por cavalos e no final não subiu em um automóvel conversível dos anos 40 que tinham preparado para ele, no meio de 34 graus centígrados à sombra. Depois foi a um almoço no qual foram serviram pratos típicos como um guisado de uma variedade local de pescado, salada, arroz com coco, bifes, "cayeye" - um purê feito com bananas pequenas - e de sobremesa, doce de corozo, uma fruta do Caribe.
As estações do "trem amarelo" guardam pouco dos bons tempos vividos pela região, cenário da célebre greve das bananeiras em 1928 e do não menos famoso massacre de trabalhadores, mencionados por García Márquez em suas obras, que falam de vagões levando centenas de cadáveres para jogá-los no mar. Em alguma parte de "Cem anos de solidão", seu autor lembra a Aracataca "estremecida por um assobio de ressonâncias pavorosas, e uma descomunal respiração" do "inocente trem amarelo".
Hoje, após percorrer 80 quilômetros chegou a Aracataca, onde se deteve no meio de um profundo suspiro enquanto se suscitava uma fuga precipitada ao redor do vagão e as crianças aclamavam Gabo em uma estação pintada com borboletas amarelas, como as que revolviam ao redor de Maurício Babilônia em Cem Anos de Solidão.
O escritor do realismo mágico, conhecido por sua lendária timidez e surpreendido pelas mostras de afeto das pessoas, se limitou a fazer cara de pânico pelo que o esperava ao descer do trem e a dizer: "Todos sabem que eu não inventei nada?".

Agência EFE

Gabriel García Márquez. Entre a amizade com Fidel e o fascínio pelo poder


O mínimo que se espera de um escritor é que seja um rigoroso guardião da liberdade de expressão. Mas Gabriel García Márquez sempre colocou sua amizade com Fidel Castro acima disso. Seus amigos se desdobram em explicações para o seu compadrio com Fidel. Admitem que Gabo tem fascinação pelo poder, mas essa admiração se bifurca, ora atende a critérios político-ideológicos, ora obedece ao mando dos afetos pessoais. Fidel, dizem, está nessa segunda conta. A reportagem é de Carlos Marchi e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 3-06-2007.

Também se espera de um escritor que tenha sensibilidade humanista. É esse manto que abriga hoje um Gabo bem menos à esquerda do que em tempos passados. Amigo de Fidel, sim, mas sem esquecer a demissão atribulada da agência noticiosa cubana Prensa Latina em 1961, porque seus textos desagradavam a Havana. Demitido, nunca receberia a indenização. Sem dinheiro, foi de Nova York à Cidade do México de ônibus. O único lenitivo foi conhecer, da janela do ônibus, o sul dos EUA, cenário das novelas de William Faulkner, sua influência. Se não doeu na alma, ele confessa aos amigos que doeu no corpo chegar à Cidade do México com mulher, dois filhos pequenos e apenas US$ 200 no bolso. Doeria na alma, após a fama, descobrir que os textos que redigira para a Prensa Latina tinham sido expurgados do arquivo da agência, em Havana. Mesmo assim, a amizade com Fidel frutificou.

O jornalista Flávio Tavares encontrou-o com os filhos, em 1963, na sala de espera do pediatra Amador Pereira, um espanhol que atendia os filhos dos esquerdistas na Cidade do México. Na ocasião, Gabo contou-lhe que tinha sido demitido da Prensa Latina em Nova York porque os cubanos achavam que ele escrevia textos notoriamente “burgueses”. “Parecia magoado”, rememora Flávio.

Gabo já singrou muitos espectros ideológicos. A formação original é conservadora. “Cem Anos de Solidão é uma saga de autoritários e conservadores”, observa Gustavo Tatis, editor cultural de El Universal, o principal jornal de Cartagena. Depois caminhou para a esquerda; perdeu ímpeto após sair da Prensa Latina; depois derivou novamente para a esquerda. Em 1981 foi acusado de envolver-se com a guerrilha do M-19 na Colômbia e expulso do país.

A seu antigo editor brasileiro, Alfredo Machado, confessou certa vez que era um “comunista aristocrático”, conta o filho Sérgio Machado. Adora os valores da vida burguesa: boa comida, charutos e uísque puro malte. Hoje, na Colômbia, não fala de política: nunca elogiou a guerrilha e, em 1998, apoiou em público o candidato Andrès Pastrana, do Partido Conservador.

O político por quem teve maior afeto foi o ex-presidente do Panamá, Omar Torrijos, cujo marco ideológico era o antiamericanismo. Quando Torrijos morreu num acidente aéreo suspeito, disse a amigos que não foi ao enterro porque não agüentava “enterrar os amigos”. A partir daí, aproximou-se de Fidel, com quem fala muito sobre livros, comida e conspirações.


FIDEL, SÍ; CHÁVEZ, NO

Um amigo atalha: se a proximidade com Fidel tivesse razões ideológicas, ele seria também um admirador de Hugo Chávez. No entanto, Gabo nunca nutriu a menor admiração pelo venezuelano ou seus parceiros da aventura bolivariana.

Até os anos 90, “cumpriu tarefas” para Fidel: deu “recados” para o mundo, serviu de intermediário de mensagens a Bill Clinton, de quem é amigo pessoal.
Também tem forte ligação afetiva com o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, um socialista moderado. Guarda uma amizade de 60 anos com o escritor colombiano Álvaro Mutis, que como ele mora na Cidade do México e que, mais que conservador, é monarquista. “Nós nos queremos muito. Nunca tivemos uma mínima rusga. Juntos, passamos momentos duros e alegres”, disse, com imensa doçura, Mutis.

Mas as “tarefas” que os amigos mais exaltam são as intervenções humanitárias. Em 1980, quando Fidel liberou as saídas de cubanos para os EUA em Puerto Mariel, Gabo internou-se no Hotel Riviera, em Havana, para negociar a liberação de intelectuais presos entre os 125 mil cubanos que optaram por Miami. Também mediou secretamente a libertação de alguns seqüestrados pela guerrilha colombiana. Amigos garantem que no período duro da revolução cubana - o ‘qüinqüênio gris’ -, nos anos 70, ele operou para amenizar a censura.

Recebeu como tarefa o pedido do escritor chileno António Skármeta para escrever o livro-documentário A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile. Produziu, com Littín, que à época passava por grandes dificuldades financeiras no exílio, uma peça instigante. Mas, para desespero do chileno, doou os direitos autorais integrais à escola de cinema de San Antonio de los Baños, que tinha criado em Cuba. E não era pouco: US$ 750 mil.

Em março de 1974, escreveu um livro sobre os últimos dias do ex-presidente Salvador Allende - Chile, el Golpe y los Gringos - com o jornalista brasileiro Eric Nepomuceno e prometeu não escrever mais novelas enquanto Augusto Pinochet mandasse no Chile. Os direitos foram doados a grupos que defendiam a redemocratização chilena.

Odeia ‘gringos’, mas não se incomodou quando o ex-presidente Bill Clinton o encontrou, na homenagem que o rei da Espanha lhe prestou há três meses, em Cartagena, e lhe espetou na lapela um button da campanha de sua mulher Hillary à Presidência dos EUA. Poucos perceberam, mas a foto de Gabo com aquele button na lapela foi multiplicada na imprensa latina dos EUA. Não há dúvida: Gabo é um formidável formador de opinião em comunidades latinas de qualquer latitude.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Resumo: "Amor nos tempos de cólera"



por Karina Maia








Um romance de realismo fantástico que fala sobre um amor sem barreiras num cenário de uma pequena cidade do Caribe em fins do século XIX. O amor de dois jovens e suas cartas transbordando de emoção e lirismo são interrompidas pelos preconceitos e hipocrisias da sociedade da época. Florentino Ariza jura amor eterno a Fermina Paza e mesmo quando sua amada casa-se com Juvenal Urbino, sua jura persiste e espera 53 anos, 7 meses e 11 dias, quando seu rival morre, para ter seu amor em seus braços.


Florentino Ariza se relacona com diversas mulheres, mas nunca se envolve com nenhuma, para conservar-se livre para o momento que poderá ter seu verdadeiro amor. Constrói fortuna, mas não para si, sempre pensando no dia que conquistará o coração de Fermina Paza.


Um incrível e irresistível romance que trata do amor, da velhice e da morte. O sentimento que persiste em todas as fases da vida, que mesmo que esteja destinado a morte, se mantêm acesso enquanto a energia vital persistir. Com seu maravilhoso talento e seu estilo próprio de narração que insere o leitor num emaranhado de histórias sem nenhum tipo de sistematização, Gabriel Gárcia Marquez fala sobre o um amor que desabrocha quando mais nada se espera da vida e por isso mesmo torna-se tão intenso.



A capa do livro retrata muito bem a história. Um cupido, símbolo da paixão, sentimento que guia Florentino Ariza por toda a sua vida. E ao fundo, o rio com o navio e bandeira amarela do Cólera. Quando acabei de ler “Amor nos tempos de cólera” e olhei a capa do livro, toda a história passou em segundos por minha mente novamente.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Exploração ou Homenagem?

por Marcela Wolter




Em junho de 2006, os moradores de Aracataca, cidade onde nasceu Gabriel García Marquez, foram às urnas para votar numa eleição popular o projeto do prefeito da cidade, Pedro Sánchez, que propunha mudar o nome de Aracataca para Macondo, cidade fictícia de algumas de suas obras literárias, tais como "Folhas Mortas" e "Cem Anos de Solidão".


O projeto segundo seu idealizador tinha como objetivo homenagear em reverência ao prêmio Nobel de literatura, o principal talento "aracataquense" e também aumentar o turismo da região, fato que constatou após uma viagem pela Europa onde as pessoas com quem conversava não lhe perguntavam sobre as cidades mais importantes da Colômbia, mas sim por Macondo. Sua proposta motivou tanto partidários quanto opositores, que não concordavam em transformar o real em ficção e duvidavam dos bons interesses do prefeito, considerando que seus objetivos eram de um todo marketeiros.


No dia da votação, dos 22 mil habitantes da cidade apenas 3.592 "aracataquenses" votaram, e mesmo com maioria a favor, o projeto não pode se viabilizar por não ter o número mínimo de votantes, 7.600 pessoas segundo as leis colombianas.


Aracataca continua Aracataca e a proposta de mudança de nome mesmo tendo sido exploração ou homenagem não muda o fato de a cidade continuar sendo conhecida como Macondo no imaginário de todos que lêem Gabriel García Marquez.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

"Cem anos de Solidão" ganha edição comemorativa



Por Luciana Mendes


2007 promete. Para comemorar 40 anos do clássico "Cem anos de Solidão"- que já vendeu 50 milhões de cópias em mais de 30 idiomas, a editora Alfaguara lançou, em março deste ano, uma edição especialíssima do livro. Com 606 páginas, o "novo" livro ganhou um quadro genealógico da família Buendía e um glossário de 55 páginas que esclarece o significado de inúmeros termos utilizados pelo escritor. Além disso, o próprio Garcia Márquez fez pequenas mudanças gramaticais e estilísticas no texto. A edição conta, ainda, com crônicas e artigos sobre ele, escritos por vários amigos.

Com tantas novidades e em se tratando de Gárcia Márquez, a edição comemorativa só poderia ser mesmo um fenômeno de vendas: a editora havia planejado colocar 500 mil exemplares nas ruas, acabou imprimindo 650 mil e, no dia 29 de março, apenas 24 horas após o lançamento da edição, já se preparava para subir para um milhão de cópias. Para muitos, uma das principais - e mais agradáveis - novidades foi o preço do volume: 10,5 dólares cada, cerca de vinte reais.

Os brasileiros, entretanto, ainda terão que esperar mais um pouco para garantir a novidade. Tanto a Alfaguara quanto a Sudamericana, outra editora que também lançou a edição comemorativa, estão com as remessas previstas para o Brasil atrasadas. Os volumes deveriam ter chegado em maio, e as principais livrarias da cidade ainda não sabem informar sobre o assunto. Só nos resta, então, acompanhar e aguardar.




sexta-feira, 11 de maio de 2007

O Deus do Macondo: um perfil mais detalhado de Gabo

Por Winston Manrique



Deveria chamar-se Olegário. Acabavam de tocar os sinos da missa das 9h quando os gritos da tia Francisca abriram espaço entre o ruído do aguaceiro enquanto corria pelo corredor: ''É homem! É homem! Corram que se afoga!'' E novos gritos envolveram a casa. Uma vez libertado do cordão umbilical enrolado no pescoço, as mulheres correram para batizar o menino com água benta. A primeira coisa que lhes veio à cabeça foi chamá-lo Gabriel, pelo pai, e José, por ser o patrono de Aracataca. Ninguém se lembrou do santo do dia. Do contrário, teria se chamado Olegário García Márquez.

Naquele domingo, 6 de março de 1927, Aracataca celebrou a chegada do primogênito de Luisa Santiaga e Gabriel Eligio. Mas na realidade para os ''cataqueiros'' tinha nascido o neto de Tranquilina Iguarán Cotes e do coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía - os avós maternos, com quem ele se criou até os 8 anos, em uma terra coberta de bananeiras sob o sol impiedoso do Caribe colombiano. Foi um menino num casarão de mulheres, amordaçado pelas crenças de além-túmulo da avó e as lembranças de guerras do avô - os anos das vivências que o tornaram universal em 1967, quando publica Cem Anos de Solidão. Apesar de ele acreditar que a história que não embotará seu nome no esquecimento é a de seus pais, recriada em O Amor nos Tempos do Cólera.

É a história real onde tudo começa. A dos felizes amores contrariados que há 80 anos transformaram Gabriel José García Márquez no primeiro de sete homens e quatro mulheres, e que daria vida a tantas coisas.

UM ESCRITOR: Foi sua avó quem lhe permitiu descobrir que ia ser escritor? ''Não, foi Kafka, que, em alemão, contava as coisas da mesma maneira que minha avó. Aos 17 anos, quando li A Metamorfose, descobri que ia ser escritor. Ao ver que Gregorio Samsa podia despertar certa manhã transformado num gigantesco inseto, disse a mim mesmo: 'Eu não sabia que era possível fazer isso. Mas se é assim, escrever me interessa'', contou o autor a Plinio Apuleyo Mendoza, em El Olor de la Guayaba.

UM JORNALISTA: Começou no diário El Universal de Cartagena de Índias em 1948, continuou no El Heraldo de Barranquilla e depois no El Espectador, de Bogotá. Ryszard Kapuscinski disse: ''Embora tenha uma enorme admiração por suas novelas, considero que a grandeza de García Márquez se baseia em suas reportagens. Suas novelas provêm de seus textos jornalísticos. É um clássico da reportagem com dimensões panorâmicas, que tenta mostrar e descrever os grandes campos da vida ou dos acontecimentos. Seu grande mérito consiste em demonstrar que a grande reportagem também é grande literatura''.

UM MUNDO: ''Essa vontade unificadora é a de edificar uma realidade fechada, um mundo autônomo cujas constantes procedem essencialmente do mundo da infância de García Márquez. Sua infância, sua família, Aracataca constituem o núcleo de experiências mais decisivo para sua vocação: esses demônios foram sua fonte primordial'', escreveu Mario Vargas Llosa em Historia de un Deicidio.

UMA LINGUAGEM: ''É como se a linguagem fosse feita para contar histórias, para mudar o mundo aterrorizante, para mergulhar o homem, sem que o perceba, nos vales confortáveis do sonho. Como se fosse um grande caleidoscópio que mostrasse a realidade dos cacos coloridos, mas organizados em encaixes vistosos, mágicos, cambiantes, multiplicados pelos espelhos enganosos'', explicou Ricardo Escavy Zamora, da Universidade de Murcia, no congresso Quinhentos Anos de Solidão.

UM ESTILO: Carlos Monsiváis considera que ''em seus livros clássicos se extrema uma certeza: graças à beleza do idioma - a perfeição de seu som, a sucessão de frases 'imelhoráveis' -, os fatos adquirem outro relevo, são relatos que, se não se dão com essas palavras, se transformam em algo diferente. Para García Márquez, escrever bem não é uma exibição de dons estilísticos; é acrescentar a noção épica do idioma às épicas existentes''.

MACONDO: O território literário onde transcorre grande parte de sua criação é citado pela primeira vez em 1955, em Monólogo de Isabel Fazendo Chover em Macondo. Mas sua fama chega em Cem Anos de Solidão: ''Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos''.

OS BUENDÍA: É a estirpe protagonista de sua obra mais famosa. ''Nenhum deles é vulgar. Levam pregada nos rostos a irremovível máscara da singularidade. E, talvez por causa de seu desempenho cênico, têm cravada no peito a lança da solidão. Ávidos e legendários, amam-se entre si quando a luxúria do vizinho não sacia seu desejo. São eles o princípio da lenda. ... Na bagagem de cada um, desde Úrsula até o último dos Buendía, concentram-se maravilhas, prodígios, milagres'', disse Nélida Piñon.

CEM ANOS DE SOLIDÃO: Depois de um ano e meio de escrita, sua primeira edição aparece em 30 de maio de 1967 pela editora argentina Sudamericana. ''Sua situação é paradoxal quanto à história de Macondo, que dura cem anos: atravessa todas as idades da Terra, desde o pré-histórico até o Apocalipse. História e mito se entrelaçam e o paradoxal se carrega de valor paradigmático'', esclareceu Marta L. Canfiel, da Universidade de Nápoles, no congresso Quinhentos Anos de Solidão.

INOVADOR:
A conquista de novos territórios literários é resumida por Carlos Fuentes: ''Não só reunia em um feixe as grandes tradições da literatura hispano-americana - mito de fundação, épica de destruição, história de recriação - como, magistralmente, generosamente, demonstrava a compatibilidade dos gêneros de uma época de seca literária determinada pela ditadura do 'nouveau roman' francês, empenhado em transformar a literatura em deserto''.

UNIVERSALIZAÇÃO DO BOOM: ''A novela hispano-americana não saiu realmente para o mundo até depois da segunda metade da década de 60, a partir do triunfo escandalosamente sem precedentes de Cem Anos de Solidão'', lembra José Donoso em História Pessoal do Boom.

REALISMO MÁGICO: Apesar de terem lhe chamado de pai do realismo mágico, a verdade é esclarecida por Piedad Bonnett: ''O que acabava de fazer - valer-se do mítico e mágico para conseguir uma visão popular dos fatos - equivalia a levar às últimas conseqüências o postulado de Carpentier, que no prólogo de sua novela O Reino deste Mundo (1949) havia perguntado, de forma retórica: 'Mas o que é a história da América toda, senão uma crônica do real maravilhoso?'''

CRIAÇÃO: Vendeu cerca de 40 milhões de exemplares em mais de 30 idiomas.

Novelas: La Hojarasca - 1955; Ninguém Escreve ao Coronel - 1957; A Má Hora -1961; Cem Anos de Solidão - 1967; O Outono do Patriarca - 1975; Crônica de uma Morte Anunciada - 1981; O Amor nos Tempos do Cólera - 1985; O General em seu Labirinto - 1989; Do Amor e outros Demônios - 1994; Memórias de Minhas Putas Tristes - 2004.

Grandes reportagens: Relato de um Náufrago'' - 1970; Notícia de um Seqüestro - 1996; Obra Jornalística Completa - 1999. Primeiro tomo de suas memórias: Viver para Contar - 2002.

Contos: Olhos de Cão Azul - 1955; Os Funerais da Mamãe Grande - 1962; A Irresistível e Triste História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada - 1972; Doze Contos Peregrinos - 1992.

O QUE GOSTARIA DE TER SIDO:
Gabriel García Márquez, o soube há muitos anos em Zurique, quando uma tempestade de neve o levou a um bar, segundo conta Eligio García Márquez em uma reportagem. ''Tudo estava na penumbra, um homem tocava piano na sombra e os poucos clientes que havia eram casais de namorados. Nessa tarde soube que se não fosse escritor gostaria de ser o homem que tocava o piano sem que ninguém visse seu rosto, só para que os namorados se quisessem mais.''



Fonte

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Eric Nepomuceno. Amigo e grande tradutor das obras de Gabo.





De Havaianas brancas, jeans e camiseta tipo Hering azul, Eric Nepomuceno recebe a reportagem em sua casa de três andares no Jd. Botânico, no Rio. Aos 57 anos, ele acende um cigarro Charm atrás do outro. "Só posso fumar do meu maço porque aí consigo fazer um controle de quanto fumo por dia. Ordens médicas", explica, ajeitando um cinzeiro na mesa da varanda enfeitada por plantas.

Uma visita anterior ao seu escritório, no primeiro andar, com livros e jornais amontoados pelo chão e nas estantes, mostram uma flâmula do Fluminense, um exemplar de "Notícia de um Seqüestro" e páginas de "O General em seu Labirinto", ambos de Gabriel Gárcia Márquez, com anotações do próprio. Eric mesmo admite: é mais conhecido como tradutor de Gabo, o colombiano Prêmio Nobel de Literatura em 1982, do que como escritor. Ele afirma só traduzir os autores de que gosta, geralmente amigos.

"Não sou tradutor, não vivo disso; sou escritor. Cheguei a um ponto da vida em que consigo diferenciar o que é bom e o que eu gosto. Às vezes, coincide. Eu faço a escrita alimentícia, aquilo que a gente escreve para comer, e também a escrita por prazer", reconhece. "A essa altura, não tenho mais vontade de traduzir porra nenhuma, mas meus amigos continuam escrevendo..."

Ele e Gabo se conhecem desde 1978, quando se encontraram em Cuba. Eric foi morar no México, lar também do colombiano, e os dois se tornaram íntimos. "Eu e o Gabo sempre bebemos juntos, mas ele nunca fica bêbado. Uma única vez na vida a gente sentou pra beber mesmo, na casa dele. Ele tinha acabado de ganhar o Prêmio Nobel. Então nos reunimos eu, ele e o Jorge Castañeda [escritor mexicano] e assaltamos o depósito secreto de champanhe da mulher dele. Era um estoque que valia o preço de um Nobel!", diverte-se.

O tradutor conta que raramente procurou o autor, apesar da amizade, para falar de tradução, e que não conversou com Gabo durante a tradução de "Memória de Minhas Putas Tristes" (ed. Record, R$ 24,90, 128 págs.), na lista de best-sellers desde o ano passado.
"Ele só me pediu dois favores: faça uma boa tradução e não me consulte para nada. Se você só traduz por afeto, a responsabilidade é muito maior. Eu lia trechos e lembrava de conversas de 15 anos atrás com o Gabo, e ficava vendo como ele remói coisas antigas. O escritor escreve sempre o mesmo livro, como ele mesmo diz."

Pelo mundo Eric é assíduo "freqüentador" da América Latina há 42 anos. A jornada começou graças a seu pai, físico, que sempre ia ao Uruguai a trabalho. "Quando eu tinha 16 anos, ele me levou a Montevidéu, e eu me encantei", lembra. "Tinha morado na Alemanha e na França na infância, mas não fazia idéia do que era o nosso continente. Hoje, posso sonhar em espanhol, namorar, até brigar."

Morou também na Argentina, onde começou a escrever --seus três primeiros livros foram publicados em espanhol. "Para impressionar as moças, eu dizia que perseguia a democracia. Mentira, deixa o [Fernando] Gabeira contar essa história. Eu fui para Buenos Aires mesmo, em 1973, atrás do [Astor] Piazzola (músico argentino). Acabei ficando amigo dele."

Para que os amigos brasileiros pudessem ler o que estava descobrindo, começou a traduzir os amigos latino-americanos. "Traduzir é um meio de compartilhar todo esse mundo", diz. "Mas nunca acho que sou o escritor da obra que estou traduzindo. A tradução é uma releitura, embora o texto em português seja meu."

A mulher, Marta --que ele chama de "minha namorada há 35 anos e 29 dias"--, já discordou dessa tese. "Muitas vezes, Marta acordava às três da manhã, impressionada com a beleza do 'meu' texto --parecia que era eu quem estava escrevendo, e não o Gabo, que tinha feito uma sinfonia de câmera, algo emocionante."
O único filho do casal, Felipe, 30, documentarista, também ficou encantado com o gênio colombiano --mas por motivos, digamos, menos nobres. "Em 1996, eu estava em Madri e encontrei o Felipe, que há oito meses viajava pelo mundo. O Gabo estava em Barcelona e veio nos encontrar. Ele nos levou a um restaurante caríssimo, não é lugar para escritor iniciante--, e comemos um banquete enlouquecedor. Gabo dizia que não existia maior prazer que ver um jovem artista comer bem. Ele se referia ao meu filho, que tinha então 20 e poucos anos."

Há 23 anos de volta ao Brasil, Eric adotou uma rotina bem light: segunda, terça e quarta fica no Rio e, na quinta de manhã, sobe para sua casa em Petrópolis. Gosta de brincar que é cozinheiro, cita seu hobby, escrever, e diz que não consegue mais ler alguns de seus próprios contos em português. "O [Eduardo] Galeano (escritor uruguaio) traduziu alguns que eu gosto mais em espanhol do que no original. Talvez porque tenham sido vividos em espanhol", acredita.

Mas foi por Gabo que Eric fez algo que nunca tinha feito: ligar para uma editora e pedir para traduzir um conto. "Quando o Gabo acabou de escrever 'O Rastro do Teu Sangue na Neve', eu fui fazer uma feijoada na casa dele, e ele estava tristíssimo, ninguém entendia. Dias depois, ele me deu o conto para ler, e era belíssimo. Na hora, quis traduzi-lo."

Eric lembra já ter dito a Gabo que suas obras o emocionaram a ponto de inspirá-lo a escrever. "Sabe, aquela conversa de velhos viados", brinca. "Sou da geração de 48. Existe uma enorme diferença entre fazer amor e se masturbar. Fazendo amor você corre riscos, pode se apaixonar, pode se machucar, pode nunca mais voltar ao normal. Qualquer coisa que eu leia e não mexa o chão embaixo do meu pé não valeu a pena ter sido escrito."



Fonte

segunda-feira, 30 de abril de 2007

ANTES QUE ESQUEÇAM FIDEL...


Data de Publicação: 12 de agosto de 2006 em
http://www.brasiliaemdia.com.br/
Por: Gabriel García Márquez


HAVANA - Referindo-se a um visitante estrangeiro que ele havia acompanhado durante uma semana numa viagem pelo interior de Cuba, Fidel Castro disse: "Como esse homem fala! Consegue falar mais do que eu". Basta conhecer um pouco Fidel Castro para saber que é mais um de seus exageros, e dos maiores, pois não é possível imaginar alguém mais viciado que ele no hábito da conversa. Sua devoção pela palavra é quase mágica. No começo da revolução, apenas uma semana depois de sua entrada triunfal em Havana, ele falou sem trégua pela televisão durante sete horas. Deve ser o recorde mundial. Nas primeiras horas, os moradores de Havana, ainda não habituados ao poder hipnótico daquela voz, sentaram-se para escutá-la da maneira de sempre, mas à medida que o tempo ia passando tornavam às suas rotinas, com um ouvido em seus assuntos e outro no discurso.


Eu havia chegado com um grupo de jornalistas de Caracas no dia anterior, e começamos a escutá-lo no quarto do hotel. Depois continuamos ouvindo sem pausa no elevador, no táxi que nos levou aos bairros comerciais, nas varandas floridas dos cafés, nos bares glaciais, e até nas rajadas dos rádios a todo volume que saiam pelas janelas abertas enquanto caminhavamos pela rua. De noite, havíamos feito tudo que precisávamos fazer ao longo do dia, sem perder uma única palavra do discurso. Duas coisas chamaram a nossa atenção, ao ouvirmos Fidel Castro pela primeira vez.


Uma era seu terrível poder de sedução. A outra era a fragilidade de sua voz. Uma voz afônica, que às vezes parecia sem fôlego. Um médico que escutava fez uma dissertação sobre a natureza daqueles quebrantos e concluiu que mesmo sem discursos amazônicos como o daquele dia, Fidel Castro estava condenado a ficar sem voz em menos de cinco anos. Pouco depois, em agosto de 1962, o prognóstico pareceu dar seu primeiro sinal de alarma, quando ele ficou mudo depois de anunciar em um discurso a nacionalização das empresas norte-americanas. Mas foi um percalço transitório que não se repetiu. Sua voz parece ainda tão incerta como sempre, mas continua sendo seu instrumento mais útil e irresistível no muito delicado ofício da palavra falada.



Veja esta publicação na ítegra: http://www.brasiliaemdia.com.br/2006/8/11/Pagina644.htm

sábado, 28 de abril de 2007

Rumos de Gabo

Por Karina Maia

Gabriel Garcia Marquez sofreu grande influência das histórias sobre a guerra dos mil dias que seu avô materno, veterano da mesma, o contava, bons exemplos são os personagens de Cem anos de Solidão e várias citações sobre a guerra em Amor nos Tempos do Cólera.

Gabo tinha apenas 8 anos quando seu avô morreu, então devido a uma crise da plantação de bananeira a família deixou Arataca. Gabriel estudou em Barranquilla e no Liceu Nacional de Zipaquirá. Sua adolescencia foi marcada por diverssas leituras, em especial A metarmofose de Franz Kafka. Também estudou direito e ciências políticas na Universidade Nacional da Colômbia em 1947, mas abandonou os cursos antes de seu término. Um ano depois começa seu trabalho como jornalista em Catargena da Indias na Colômbia.

Vai para New York para trabalhar como correspondente internacional, porém acaba perseguido pela CIA devido suas críticas aos exilados cubanos e suas ligações com Fidel Castro, com isso acaba se mudando para o méxico.

Relato de um Naufrágio foi seu primeiro trabalho, contém obras de ficção e não ficção, como Crônicas de uma morte anunciada e Amor nos tempos do cólera. Cem anos de solidão é o mais famoso de seus livros e foi com ele que Gabo ganhou o Nobel de Literatura em 1982. Em 2002, logo após ter sido diagnosticado um câncer linfático, publicou sua autobiografia Viver para contar.
________________________________________________
Prêmios e condecorações

Premio de Novela ESSO por "má hora:o veneno da madrugada" (1961)

Doutor honoris causa da Universidade de Columbia em Nova Iorque (1971)

Medalha da legião francesa em Paris (1981)

Condecoração Águila Azteca no México (1982)

Prêmio Nobel de Literatura (1982)

Prêmio quarenta anos do Circulo de jornalistas de Bogotá (1985)

Membro honorário do Instituto Caro y Cuervo em Bogotá (1993)

Doutor honoris causa da Universidade de Cádiz (1994)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Amizade entre Gabo e o líder cubano Fidel Castro


O líder cubano Fidel Castro, 80, está se recuperando bem de uma cirurgia realizada em julho de 2006 e deve retomar um papel ativo no governo de Cuba em breve, segundo matéria publicada na Folha Online.

A afirmação parece corroborada pelas últimas imagens divulgadas de Fidel, que mostram um líder bem mais saudável do que aquele que deixou o poder interinamente com seu irmão, Raúl Castro, em 2006: em um jardim, ele aparece ao lado do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, com quem manteve uma conversa. As imagens foram publicadas pelo jornal de Bogotá "El Tiempo" e retratam um encontro que ocorreu no dia 12 de março último. É a primeira vez desde que saiu do poder para se submeter a uma cirurgia de emergência no intestino que Fidel aparece fora do hospital.

Ao final do encontro, Garcia Márquez garantiu que Fidel "está muito bem, melhor do que muita gente pensa".

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Cem Anos de Solidão, 1 milhão de exemplares

Por Giulio Sanmartini, de Belluno (Itália) em 3/4/2007


"Tinha completado há pouco 38 anos quando sentei em frente à máquina de escrever, sem ter a mínima idéia do significado e da origem da frase que lancei no papel em branco: ‘Muitos anos depois, defronte ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía teria lembrado daquela remota tarde em que seu pai o levara para conhecer o gelo.’"

Assim começou seu depoimento-reportagem o jornalista e escritor que recebeu na pia batismal o nome de Gabriel José de la Concordia García Márquez, conhecido por seus leitores somente como Gabriel García Márquez e por seus amigos tratado por Gabo, no dia 26 março, em Cartagena (Colômbia), perto de sua nativa Aracataca, quando festejava seus 80 anos.

Parecendo ignorar que seja um dos dez mais importantes escritores da idade moderna, como exemplares de seu trabalho maior, Cem anos de solidão, e surpreso ao lembrar que se pudesse juntar os leitores desse livro em uma só comunidade morando num mesmo lugar, formariam um país entre os 20 mais populosos do mundo. Em sua festa, quis tão-somente uma extravagância – "Quero o rei", dizia a seu editor, isto é, a presença do rei da Espanha, Juan Carlos, o qual, não se fazendo de rogado, compareceu com a rainha Sofia.


Matéria na ítegra no link sugerido em nosso blog

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Faculdade do RJ utiliza blogs para trabalhos de avaliação


por Filipe Cerolim Filipe - estudante de jornalismo do 5º período da FACHA (Faculdade Integrada Hélio Alonso), do RJ.

Alunos da FACHA (Faculdades Integradas Hélio Alonso), no Rio de Janeiro, estão produzindo blogs em seus trabalhos de avaliação. A novidade foi implantada pelo professor Paulo Cezar Guimarães, junto com os seus alunos das turmas de Técnica de Reportagem e Documentação Gráfica e Visual, na Unidade Botafogo; e de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na Unidade Méier. São cinco blogs. Todos sobre assuntos voltados para a Comunicação. A turma de Documentação Gráfica e Visual do turno da noite da faculdade já está com três blogs no ar. Um sobre a história da Imprensa, "De Guttemberg a Blogosfera"; outro sobre Mídia Alternativa e o terceiro sobre o escritor Gabriel García Márquez, que esse ano completou 80 anos. A turma de Técnica de Reportagem produziu um blog sobre o livro que revolucionou e criou a geração "beats", "On The Road", de Jack Kerouak. A turma de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) está fazendo um sobre o extinto Grupo Manchete.Por falar em professores, eles também têm seus blogs. Alguns até dois, como o próprio Paulo Cezar (um blog pessoal e outro voltado para seus alunos), e Sebastião Martins (um voltado para peças publicitárias e outro sobre seu hobbie, a poesia). Marcio Riscado também tem um em parceria com outros colegas, dedicado a fotos inusitada. Fora Cid Benjamin, pioneiro entre os professores.Na FACHA não só turmas inteiras e professores estão criando seus blogs. Outros alunos entraram na onda e estão produzindo seus blogs pesssoais. O blog se tornou uma ferramenta muito útil para a comunicação.

Endereços dos blogs Professor PC - www.blogdoprofessorpc.blogspot.com

Blog do PC www.blogdopc.blogspot.com
Só Fotão www.sofotao.blogspot.com
Criação & Cia - www.criativosdafacha.blogspot.com
Poesia & Cia - www.tiaomartins.blogspot.com
TCC - www.blogtccmanchete.blogspot.com
On The Road - www.ontheroadrio.blogspot.com
De Gutemberg a Blogosfera - www.blogpcalunos.blogspot.com
Gabriel Garcia Márquez - www.bomlergarciamarquez.blogspot.com
Mídia Alternativa – www.midiaalternativabypc.blogspot.com
Escritor Amador - www.escritoramador.blogspot.
de Gaveta - www.materiadegaveta.blogspot.com

Contato: filipecerolim@gmail.com

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Quem é Gabriel Garcia Márquez ?


Gabriel José Garcia Márquez, a quem os amigos chamam de Gabo, nasceu às 9 horas da manhã do dia 6 de março de 1928 na aldeia de Aracataca na Colômbia, não muito distante de Barranquilla. Seu pai, homem de onze filhos, tinha uma pequena farmácia homeopática, e seu avô materno era um veterano da Guerra dos Mil Dias, cujas histórias encantavam o menino. Costumavam levar o neto ao circo; às vezes se detinha na rua, como se sentisse uma pontada, e com um sussurro, inclinando-se para ele, dizia: "Ay, no sabes cuánto pesa um muerto!" - referindo-se a um homem que matara. Gabo tinha 8 anos quando esse avô morreu: "desde então não me aconteceu nada de interessante."


A família deixou então Aracataca (a macondo de seus livros) devido à crise da plantação bananeira, e Gabriel estudou em Barranquilla e no Liceu Nacional de Zipaquirá. Iniciou o curso de Direito em Bogotá entre 1947 e 1948, e nessa época publicou seu primeiro conto. Trabalhou como jornalista em Cartagena, Barranquilla e depois em El Espectador de Bogotá, onde fez grandes reportagens e críticas de cinema. Em 1955 ganhou um concurso nacional de contos e foi enviado especial do jornal à Conferência dos Quatro Grandes, em Genebra; estudou no Centro Experimental de Cinema de Roma e fez uma viagem de três meses aos paises socialistas, radicando-se depois em Paris. Em 1956 voltou à Colômbia para casar-se com Mercedes Barcha: tem dois filhos: Rodrigo e Gonzalo. Mais tarde trabalhou como jornalista em Caracas e em 1960 foi para New York como representante da Prensa Latina, agência cubana, nas Nações Unidas, indo em seguida para o México, onde viveu seis anos escrevendo roteiros para cinema.

Como influências que considera importante, Garcia Márquez indica as seguintes: Virgínia Woolf, Faulkner, Kafka e Hemingway, do ponto de vista técnico. Do ponto de vista literário, As Mil e Uma Noites, que foi o primeiro livro que leu aos 7 anos, Sófocles e seus avós maternos.

(Biografia extraída do romance Cem anos de Solidão, da Editora Sabiá.)